Celeste
ficou nervosa demais com aquele sonho que tivera. Sonhar com flores sempre a
fazia chorar, e aquele não era um momento triste. Faltava apenas um dia para seu
casamento e não desejava ter tido um mau presságio.
Resolveu
provar seu vestido de noiva. Queria sentir um pouco da felicidade que a
esperava... e ver-se com o vestido, mesmo descalça e despenteada, fez surgir no
seu semblante uma cor especial, de quem rubra de certo desejo único, o de
sentir-se verdadeiramente amada e de poder amar sem receios.
Olhou
para o relógio, Rodrigo não demoraria, tinha que se trocar. Parou um pouco para
pensar no escolhido da alma: Rodrigo, Rodrigo. Quem diria? Nem ela. O cunhado...
tão oposto de seu falecido marido. Tão ideal e ao mesmo tempo real ao ponto de
se deixar tocar, beijar, sentir o sabor. Depois de tudo o que vivera...
Perdida
em seus pensamentos percebeu que a hora avançara e Rodrigo demorava a chegar.
Já começava a se apressar em tirar o vestido, quando ouviu alguém bater na
porta. Lembrou-se do sonho. Medo. Correu, já esperando a notícia de uma
tragédia.
―
Flores?
Rodrigo
chegou com um lindo buquê de flores e ela o beijou aliviada. Riram muito quando
se deram conta de que Celeste ainda estava vestida de noiva, além de descalça e
despenteada.
―
Você está muito bela! Sempre e a mais bela!
No
dia seguinte, o sol estava brilhando como nunca. O céu, num tom azul magnífico.
Era um dia daqueles nos quais se sai de casa apenas para contemplar a natureza,
sorrir, caminhar, viver. Podiam-se ouvir os cantos dos pássaros do parquinho
que ficava ali próximo. A manhã acenava a um futuro promissor. Feliz de quem
percebesse e absorvesse toda aquela vibratilidade.
Era
o momento tão esperado por Rodrigo e Celeste. Enfim, unir-se-iam em Deus e no
amor que sentiam. Dois seres que agora se tornavam uma só carne, uma só alma e um
só coração.
Seguiram
para a lua de mel na Suíça. Lá, decidiram dar uma passada na Itália, porque era
desejo de Celeste, e Rodrigo fazia todas as vontades de Celeste!
O
casal, de volta ao Rio de Janeiro, criou uma entidade que ajudada às
enjeitadas, e isso trouxe uma vontade maior de viver a Celeste, além do amor de
Rodrigo. Ela lecionava para as meninas, transportando-as a um mundo então desconhecido por elas, nunca
lhes oferecido. Sentindo-se útil e amada, Celeste rejuvenescia a cada ano.
Curioso
foi que, contrariando os antigos indícios, já no ano seguinte ao casamento,
nascia o primeiro filho do casal. Aos 34 anos, Celeste foi mãe de uma menina
rechonchuda, de olhinhos brilhantes, cabelos pretos e face rosada.
―
Angélica... o que achas, meu querido?
―
É certamente o nosso anjo! Respondeu Rodrigo.
Depois
de dois anos, veio ainda um menino, que chamaram de Rodrigo, como o pai, de
acordo com a vontade de Celeste. As crianças foram crescendo ao passo que o
amor que unia Celeste e Rodrigo somente se fortificava.
Sim,
eles morreram. Mas bem velhinhos, com filhos e netos ao seu redor, cuidando de
tudo e lhes dando tanto orgulho, que morrer era apenas a certeza de que a
missão na terra estava cumprida. Rodrigo morreu primeiro, aos 78 anos. Celeste
ficou muito comovida. Sofreu. Mas o amor de sua família foi suficiente para apoiá-la
e fazê-la continuar.
Após
alguns anos, Celeste despediu-se deste mundo. Sem medo, sem sofrimentos, apenas
com o pressentimento de que Rodrigo a esperava... sorrindo e com uma flor na
mão. Os anos que viveu com esse homem que tanto esperou fizeram com que se tornasse
uma mulher esperançosa, otimista, de bem com a vida.
Enfim,
pôde dizer, minutos antes de adormecer no eterno:
―
Amei e fui amada!
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