quinta-feira, 24 de maio de 2012

CELESTE MERECE UM HAPPY END

Celeste ficou nervosa demais com aquele sonho que tivera. Sonhar com flores sempre a fazia chorar, e aquele não era um momento triste. Faltava apenas um dia para seu casamento e não desejava ter tido um mau presságio.
Resolveu provar seu vestido de noiva. Queria sentir um pouco da felicidade que a esperava... e ver-se com o vestido, mesmo descalça e despenteada, fez surgir no seu semblante uma cor especial, de quem rubra de certo desejo único, o de sentir-se verdadeiramente amada e de poder amar sem receios.
Olhou para o relógio, Rodrigo não demoraria, tinha que se trocar. Parou um pouco para pensar no escolhido da alma: Rodrigo, Rodrigo. Quem diria? Nem ela. O cunhado... tão oposto de seu falecido marido. Tão ideal e ao mesmo tempo real ao ponto de se deixar tocar, beijar, sentir o sabor. Depois de tudo o que vivera...   
Perdida em seus pensamentos percebeu que a hora avançara e Rodrigo demorava a chegar. Já começava a se apressar em tirar o vestido, quando ouviu alguém bater na porta. Lembrou-se do sonho. Medo. Correu, já esperando a notícia de uma tragédia.
― Flores?
Rodrigo chegou com um lindo buquê de flores e ela o beijou aliviada. Riram muito quando se deram conta de que Celeste ainda estava vestida de noiva, além de descalça e despenteada.
― Você está muito bela!  Sempre e a mais bela!
No dia seguinte, o sol estava brilhando como nunca. O céu, num tom azul magnífico. Era um dia daqueles nos quais se sai de casa apenas para contemplar a natureza, sorrir, caminhar, viver. Podiam-se ouvir os cantos dos pássaros do parquinho que ficava ali próximo. A manhã acenava a um futuro promissor. Feliz de quem percebesse e absorvesse toda aquela vibratilidade.
Era o momento tão esperado por Rodrigo e Celeste. Enfim, unir-se-iam em Deus e no amor que sentiam. Dois seres que agora se tornavam uma só carne, uma só alma e um só coração.
Seguiram para a lua de mel na Suíça. Lá, decidiram dar uma passada na Itália, porque era desejo de Celeste, e Rodrigo fazia todas as vontades de Celeste!
O casal, de volta ao Rio de Janeiro, criou uma entidade que ajudada às enjeitadas, e isso trouxe uma vontade maior de viver a Celeste, além do amor de Rodrigo. Ela lecionava para as meninas, transportando-as  a um mundo então desconhecido por elas, nunca lhes oferecido. Sentindo-se útil e amada, Celeste rejuvenescia a cada ano.
Curioso foi que, contrariando os antigos indícios, já no ano seguinte ao casamento, nascia o primeiro filho do casal. Aos 34 anos, Celeste foi mãe de uma menina rechonchuda, de olhinhos brilhantes, cabelos pretos e face rosada.
― Angélica... o que achas, meu querido?
― É certamente o nosso anjo! Respondeu Rodrigo.
Depois de dois anos, veio ainda um menino, que chamaram de Rodrigo, como o pai, de acordo com a vontade de Celeste. As crianças foram crescendo ao passo que o amor que unia Celeste e Rodrigo somente se fortificava.
Sim, eles morreram. Mas bem velhinhos, com filhos e netos ao seu redor, cuidando de tudo e lhes dando tanto orgulho, que morrer era apenas a certeza de que a missão na terra estava cumprida. Rodrigo morreu primeiro, aos 78 anos. Celeste ficou muito comovida. Sofreu. Mas o amor de sua família foi suficiente para apoiá-la e fazê-la continuar.
Após alguns anos, Celeste despediu-se deste mundo. Sem medo, sem sofrimentos, apenas com o pressentimento de que Rodrigo a esperava... sorrindo e com uma flor na mão. Os anos que viveu com esse homem que tanto esperou fizeram com que se tornasse uma mulher esperançosa, otimista, de bem com a vida.
Enfim, pôde dizer, minutos antes de adormecer no eterno:
― Amei e fui amada!

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